E depois de terem reflectido com consciência responsável e crítica?
No DN de ontem, na Tribuna Livre, um leitor começa por dizer que "tem razão Vasco Pulido Valente na sua crónica do Público", e continua, "parece que já não há intelectuais católicos em Portugal, mas ainda há".
Já com alguma urticária ainda continuei a ler, "as nossas emissoras de televisão só entrevistam gente encartada e acrítica. (parágrafo) Esquecem que ainda vivem Alçada Baptista, Bénard da Costa, Mário Murteira. Estão "velhotes", mas ainda sabem reflectir com consciência responsável e crítica".
Para começar assim, a coisa ia mesmo direitinha à Igreja... e a minha urticária cada vez mais forte! Tive de parar a leitura para respirar. Que vivam, que pensem e que escrevam durante muito tempo estes "velhotes".
Continuo a ler, "Mas como há-de progredir a Igreja neste mundo secular, urbanizado e informatizado? Acompanha a Igreja a civilização ocidental do século XXI ou qual é a civilização que ainda acompanha? Continua a condenar o sacerdócio feminino? E o casamento dos sacerdotes? Continua a condenar a sexualidade pré-conjugal, o uso do preservativo, o uso da pílula contraceptiva, o controlo programado ou artificial dos nascimentos? Continua a condenar a despenalização do aborto, a homossexualidade? E a eutanásia?"
Consigo, já quase sem pele de tanto coçar, chegar à parte em que leio "João Paulo II ignorou as orientações do Concílio Vaticano II sob um manto diáfano de fantasia. Instalou o seu absolutismo".
"Chagado" a este ponto tive de parar porque corria sérios perigos de ter uma síncope qualquer.
Fez-se luz!
Este homem conseguiu sintetizar numa frase toda a problemática do "mundo secular, urbanizado e informatizado" e identifica os autores da calamitosa catástrofe que provocou o estado de sítio em que, doravante, passaremos a viver se a missa não passar a ser dita por mulheres, se os padres não se casarem, se o sexo não passar a ser "libertinário" mas sobretudo, se não eliminarmos os incómodos "velhotes" quando eles já não reflectirem com consciência responsável e crítica.
Este homem que, com toda a certeza já leu todos os documentos conciliares mas também todas as encíclicas, cartas apostólicas e outros documentos papais dos últimos dois séculos passou a ser o meu Elvis Presley de Santo António de Cavaleiros e peço-lhe, Sr. Raimundo, funde uma religião, escreva um livro e mande-me um, autografado, com a dedicatória "Para o Raúl".
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